quinta-feira, março 22, 2007
Dedicado à fresquinha
«O livro O Vinho (Propriedades e Aplicações), com trinta mil exemplares vendidos na década de trinta, é duplamente interessante: primeiro, porque, para qualquer efeito, é criação de um viseense; e, por último, porque se trata de um trabalho saído da pena de um médico que resume comunicações e pareceres aprovados nos últimos congressos médicos dessa época, não sendo uma artística ode ao vinho proveniente da ressaca de um qualquer paraíso artificial - e que me perdoem os poetas, de que tanto gosto, mas, não obstante o Pro Archia de Cícero, cedo aprendi que os poetas não precisam de ser defendidos!
Iniciando a sua obra por repudiar a guerra lançada sobre o alimento mais antigo do homem mediterrânico, Samuel Maia mergulha nessa crise da bromatologia emocional para dela emergir com uma asserção inconfutável e, pensamos, racional: "O vinho é bom, no bom momento, em boa conta." Tudo o que depois se ouvir dessa escrita enleante, já o sei, é um caminho por sobre o fogo, com luta de asserções e derrogações.
Fixado esse motivema funcional, o médico de Viseu escreve terem-se:
I. referido, no Congresso de Beziers de 1934, experiências com êxito em vários campos: profilaxia do alcoolismo pelo vinho, benefício do vinho na alimentação infantil, a enoterapia (com aplicação a doenças dos aparelhos circulatório, digestivo, respiratório, urinário; a doenças infecciosas, do fígado - para a insuficiência hepática, v.g. , 1 decilitro de Bordeaux tinto -, avitaminoses, doenças de origem hídrica e operados), profilaxia das colibaciloses, da febre tifóide e da tuberculose pulmonar;
II. exalçado, no Congresso de Lausanne, os efeitos benéficos na diabetes (Dão e Torres), na taxa glicémica, na psiquiatria, nas sezões e na pielite colibacilar.
Resumidor, traidor! - pensarão todos, no rasto do que Eco disse relativamente ao tradutor. É certo. Mas um livro não se ensina, lê-se. Fica aí esta porta para as duzentas páginas, desactualizadas aqui e ali, deste Vinho caldeado no fogo do tempo. Um Júlio Dantas, referindo-se ao nosso médico, disse-o detentor de uma prosa forte, vascular, saborosa e admirável. Tudo isso eu encontrei neste livro sobre o vinho que um Shakespeare, centro do cânone da literatura ocidental, cultuou no seu irmão Madeira.»
http://www.ipv.pt/millenium/16_spec4.htm (acesso em 22 de Março de 2007)
«O livro O Vinho (Propriedades e Aplicações), com trinta mil exemplares vendidos na década de trinta, é duplamente interessante: primeiro, porque, para qualquer efeito, é criação de um viseense; e, por último, porque se trata de um trabalho saído da pena de um médico que resume comunicações e pareceres aprovados nos últimos congressos médicos dessa época, não sendo uma artística ode ao vinho proveniente da ressaca de um qualquer paraíso artificial - e que me perdoem os poetas, de que tanto gosto, mas, não obstante o Pro Archia de Cícero, cedo aprendi que os poetas não precisam de ser defendidos!
Iniciando a sua obra por repudiar a guerra lançada sobre o alimento mais antigo do homem mediterrânico, Samuel Maia mergulha nessa crise da bromatologia emocional para dela emergir com uma asserção inconfutável e, pensamos, racional: "O vinho é bom, no bom momento, em boa conta." Tudo o que depois se ouvir dessa escrita enleante, já o sei, é um caminho por sobre o fogo, com luta de asserções e derrogações.
Fixado esse motivema funcional, o médico de Viseu escreve terem-se:
I. referido, no Congresso de Beziers de 1934, experiências com êxito em vários campos: profilaxia do alcoolismo pelo vinho, benefício do vinho na alimentação infantil, a enoterapia (com aplicação a doenças dos aparelhos circulatório, digestivo, respiratório, urinário; a doenças infecciosas, do fígado - para a insuficiência hepática, v.g. , 1 decilitro de Bordeaux tinto -, avitaminoses, doenças de origem hídrica e operados), profilaxia das colibaciloses, da febre tifóide e da tuberculose pulmonar;
II. exalçado, no Congresso de Lausanne, os efeitos benéficos na diabetes (Dão e Torres), na taxa glicémica, na psiquiatria, nas sezões e na pielite colibacilar.
Resumidor, traidor! - pensarão todos, no rasto do que Eco disse relativamente ao tradutor. É certo. Mas um livro não se ensina, lê-se. Fica aí esta porta para as duzentas páginas, desactualizadas aqui e ali, deste Vinho caldeado no fogo do tempo. Um Júlio Dantas, referindo-se ao nosso médico, disse-o detentor de uma prosa forte, vascular, saborosa e admirável. Tudo isso eu encontrei neste livro sobre o vinho que um Shakespeare, centro do cânone da literatura ocidental, cultuou no seu irmão Madeira.»
http://www.ipv.pt/millenium/16_spec4.htm (acesso em 22 de Março de 2007)
Comments:
E como sabes tu que Samuel Maia é da minha família ????
Bem ..já tive a febre tifóide aos 16 e os meus pulmões são fracos. É por isso ..falta de bom vinho. Eu dizia !
Agora, traz o vinho que eu levo o saca-rolhas !
Obrigada, Mano.
Enviar um comentário
Bem ..já tive a febre tifóide aos 16 e os meus pulmões são fracos. É por isso ..falta de bom vinho. Eu dizia !
Agora, traz o vinho que eu levo o saca-rolhas !
Obrigada, Mano.