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sexta-feira, outubro 06, 2006

PINTURA MODERNA

Estava um louco num manicómio que parecia ser, ou era ao mesmo tempo, um museu ou uma galeria de arte.
Havia um corredor muito largo e longo, e à esquerda ao fundo desse corredor havia uma porta grande e dupla que dava, talvez, para outro corredor similar. O tecto era abobadado com painéis quadrados dourados e vermelhos.
Apesar de não existirem janelas, a luz era branca e intensa, e havia quadros, muitos quadros nas paredes, modernos e coloridos, com molduras douradas e muito trabalhadas. O espaço era completamente despojado de mobiliário e o chão era em ladrilhos vermelhos. O louco estava mais ou menos a meio do corredor ou galeria, vestido com um pijama branco. O chão era frio e o louco arqueava os pés descalços e encolhia-se no chão junto à parede. Alguém que lhe devia ser familiar aproximou-se. O louco não deu mostras de reconhecer a visita mas tentou falar-lhe, e dizer-lhe que estava a melhorar e que queria sair dali. Contudo, só conseguiu emitir uns sons sem qualquer significado, que se tornavam mais desconexos quanto mais se esforçava por articulá-los e dar-lhes sentido. O efeito era patético. A visita dizia ao louco “está bem, pois, pois, sossega, deixa estar”, concordando sempre com ele, “como se deve fazer com os malucos”. Depois despediu-se prometendo voltar em breve e afastou-se, caminhando em direcção à grande porta, acabando por sair.
O louco levantou-se com custo e tentou andar até à porta para sair dali também seguindo o visitante, mas só conseguiu andar com pequenos passos, muito vagarosos.
Havia mais dois ou três malucos descalços e em pijama branco na galeria, com os olhos vazio, como quem olha longe para nenhures, talvez perdidos nas formas e cores das pinturas.
Exposta ao lado da grande porta estava uma pintura enorme com o mar e uma grande onda, e tinha escrito em pinceladas “my offshore wave”.
O louco abriu a porta grande, e saiu então da galeria com passos certos e normais e reparou que já não estava maluco.



Comments:
:-) Foi exactamente assim que me senti numa exposição no Museu de Serralves de Fernanda Gomes. A não perder.
 
Há sítios que nos deixam LOUCOS!
Ex.: Repartição de Finanças.
 
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