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sábado, fevereiro 18, 2006

Tristes olhos tristes

Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes, os tristes,
tão fora de esperar bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém
.


João Roiz de Castelo-Branco, Cancioneiro Geral
comentário da paxaxita : 2:46 AM

Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar


1969, Zeca Afonso. Menina dos Olhos Tristes
Letra de Reinaldo Ferreira, interpretação de Adriano Correia de Oliveira e Zeca Afonso

Ai o bem fugindo,
cresce o mel cos’anos,
vão-se descobrindo
co’ tempo os enganos.

Amor e alegria
menos tempo dura.
Triste de quem fia
nos bens da ventura!

Bem sem fundamento
tem certa mudança,
certo sentimento
na dor da lembrança.

Quem vive contente,
viva receoso: mal
que se não sente,
é mais perigoso.

Quem males sentiu,
saiba já temer;
e pelo que viu
julgue o que há de ser.

Alegre vivia,
triste vivo agora;
chora a alma de dia,
e de noite chora.

Confesso os enganos
do meu pensamento:
bem de tantos anos
foi se num momento.

Meus olhos, que vistes?
Pois vos atrevestes,
Chorai, olhos tristes,
o bem que perdestes.

A luz do Sol pura
só a vós se negue;
seja a noite escura
nunca a manhã chegue.

O campo floresça,
murmurem as águas,
tudo me entristeça,
cresçam minhas mágoas.

Quisera mostrar
o mal que padeço;
não lhe dá lugar
quem lhe deu começo.

Em tristes cuidados
passo a triste vida;
cuidados cansados,
vida aborrecida!

Nunca pude crer
o que agora creio:
cegou-me o prazer
do mal que me veio.

Ah, ventura minha,
como me negaste!
Um só bem que tinha
porque mo roubaste?

Triste fantasia,
quanta cousa guarda!
Quem já visse o dia
que tanto lhe tarda!

Meus olhos, que vistes?
Pois vos atrevestes,
Chorai, olhos tristes,
o bem que perdestes.

A luz do sol pura
só a vós se negue;
seja a noite escura
nunca a manhã chegue.

O campo floresça,
murmurem as águas,
tudo me entristeça,
cresçam minhas mágoas.

Quisera mostrar
o mal que padeço;
não lhe dá lugar
quem lhe deu começo.

Em tristes cuidados
passo a triste vida;
cuidados cansados,
vida aborrecida!

Nunca pude crer
o que agora creio:
cegou-me o prazer
do mel que me veio.

Ah, ventura minha,
como me negaste!
Um só bem que tinha
porque mo roubaste?

Triste fantasia,
quanta cousa guarda!
Quem já visse o dia
que tanto lhe tarda!

Nesta idade cega
nada permanece;
o que ainda não chega
já desaparece.

Qualquer esperança
foge como o vento:
tudo faz mudança,
salvo meu tormento

Amor cego e triste,
quem o tem, padece:
mal quem lhe resiste!
Mal quem lhe obedece!

No meu mal esquivo
sei como Amor trata:
e, pois nele vivo,
nenhum amor mata.

Luís Vaz de Camões


Comments:
Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes, os tristes,
tão fora de esperar bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

João Roiz de Castelo-Branco, Cancioneiro Geral
 
Embora os meus olhos sejam
os mais pequenos do mundo
o que importa é que eles vejam
o que os homens são no fundo.

Que importa perder a vida
na luta contra a traição
se a razão mesmo vencida
não deixa de ser razão.

Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo
calai-vos que pode o povo
querer um mundo novo a sério.

Eu não tenho vistas largas
nem grande sabedoria
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.

António Aleixo
 
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