<$BlogRSDUrl$>

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

COIMBRA CONTINUA À MERCÊ DAS CHEIAS
Segundo a imprensa, uma tese de mestrado da Geografia, da Faculdade Letras da Universidade de Coimbra diz que “As barragens trouxeram uma falsa sensação de segurança nos terrenos junto ao Mondego, o que se pode ver pelos estudos sociológicos e científicos efectuados nesta área.”

Isto é, apesar das águas do rio Mondego estarem aparentemente domadas por barragens, açudes e margens empedradas, subsistem riscos elevados de ocorrência inundações.

Verifica-se (...) “a falta de uma política de construção dos decisores e dos técnicos, dando às pessoas a falsa sensação de que viver junto ao rio é seguro, principalmente nas áreas envolventes de Coimbra”
Ou seja, os decisores políticos estão-se nas tintas, e os decisores técnicos são incompetentes, para não variar.

"(...) Este estudo resolve um problema académico, mas, sendo uma tese de Educação Ambiental, é adequada para a política e para a população em geral."
Isto é, este estudo será mais um estudo de Educação Ambiental que terá aplicação idêntica a outros anteriores, sempre à mão numa prateleira perto de si.


Um dos principais objectivos deste estudo é, também, permitir aos decisores uma maior responsabilidade no planeamento urbano, alertando para a necessidade de mais espaços verdes para combater a artificialização dos solos.
A curiosidade deste estudo prende-se com a base de investigação na imprensa local, ponto de partida para a “localização e sinalização” do tempo e lugar onde ocorriam as inundações e as cheias em Coimbra. “A imprensa local é muito rica neste tipo de pesquisa cientifica”.

Ninguém duvida do esforço e competência dos académicos investigadores nem do valor dos trabalhos que produzem.
Por outro lado, constata-se que os senhores decisores e administradores da res publica não procuram nem estão a par, dos trabalhos produzidos pacientemente pela investigação. Quando muito, tomam conhecimento da sua existência, balbuciam umas palavras de circunstância no lançamento do livro (ou whatever), deixam-se fotografar para alimentação dos media, e já é um grande favor que julgam ter prestado à sociedade. Mal termina o almoço raspam-se a toda a cilindrada …

Aparentemente ninguém com algum poder nas unhas, ainda que mínimo, lê mais do que o ofício ou nota de serviço estritamente necessário, e somente da sua área restrita de (in)acção.
Se exercitassem verdadeiramente a leitura, estimulariam a necessidade de algum estudo, mas isso já seria, na óptica deles, considerado trabalho no sentido de suar. Ora suar é intolerável pois é ponto assente e aceite que um dirigente não sua. Suar é para os subordinados, não é próprio de um chefe.
Às vezes até, nos serviços públicos fica toda a gente muito admirada e enternecida quando o senhor doutor ou o senhor engenheiro, ele próprio e em pessoa!!! faz isto ou aquilo, com as próprias mãozinhas!!! tão giro, afinal o senhor engenheiro e doutor também é como a gente.

Ora, estes exemplos transmitem-se simpaticamente aos restantes dirigidos da carreira. Poucos funcionários (sensu lato) sabem bem como e o que andam a fazer, e para quê.
Assim percebe-se o porquê do país arder todo, de ano para ano, a razão dos peixes dos rios morrerem todos, de tempo a tempo, a qualidade das águas ser contraditória quando não é uma incógnita, por que não se acautelam os efeitos das secas, por que se é incapaz de intervir em caso de enxurradas e cheias, etc.
Ao invés, optam os senhores doutores nomeados e pagos para dirigir, por encomendar algures e à pressão, estudos diversos tipo instantâneo, de qualidade duvidosa mas muito boa impressão e a cores, para satisfação das necessidades conjunturais e projecção da imagem do dever cumprido junto da sociedade civil (antigamente conhecida por povo).
Jamais (enfim raramente) tentaram ou tentam solucionar um problema desde o princípio porque acham que isso seria assumir que não sabem, contrariando a definição de senhor doutor ou senhor engenheiro que é aquele que sabe sempre tudo acerca de todos os assuntos e nunca erra. Desta definição decorre o facto incontestável de não haver nunca (enfim raramente) lugar a responsáveis pelas asneiras. Nem despedimentos.

Assim aparentemente conclui-se que:

1) Nunca (enfim raramente) é uma primeira opção procurar saber qual é o estado das artes, por exemplo, junto das universidades.
As universidades, por seu turno, lá vão formando "Mileuristas" que estudam e investigam muitas coisas …

2) Os senhores dirigentes - directores gerais, administradores disto e daquilo, presidentes e pagos a peso de ouro – não aplicam a novidade e a ciência que é produzida por cá porque ignoram que ela existe.

3) Os senhores dirigentes quando e se admitem “não estar na posse de todos os dados” isto é quando são ignorantes na matéria, são apenas a ponta de um iceberg hierárquico, o que significa que ninguém em toda a instituição sabe resolver o problema, o que quer dizer que aquele serviço não serve para nada.

4) Muitos destes dirigentes VIPes, quando são chutados fora do cargo (normalmente depois de haver eleições), regressam às suas Universidades onde são originalmente docentes, o que é dramático.


Comments: Enviar um comentário