sexta-feira, abril 15, 2005
AS ÁRVORES COMO FONTES DE ÁGUA
“Publicada pela Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais entre 1936 e 1986, a Naturalia constitui uma verdadeira montra do percurso desta área do saber ao longo de boa parte do século XX. As fotografias da época, as ilustrações, os anúncios, trazem ressonâncias de épocas passadas em que a divulgação das Ciências Naturais tinha uma realidade própria, enriquecida pelo contributo de alguns grandes vultos da comunidade científica nacional”
in Calendário Naturalia 2005 Assírio & Alvim:
Dia 11 Abril 2005
Na Ilha de Hierro, no arquipélago das Canárias, as nascentes eram raras e de minguado caudal, insuficientes para a s necessidades dos primitivos habitantes e seus rebanhos. Nem por isso a vida animal e vegetal deixava de se manifestar largamente nessa curiosa ilha. Donde provinha então a água necessária aos seres vivos que povoavam Hierro? O segredo estava na «árvore sagrada» de El Monacal.
Esta árvore, cujo tronco tinha grossura tal que eram necessários dois homens para a abraçar, possuía vasta e frondosa copa. Debaixo dela os primeiros colonizadores construíram amplo tanque de pedra com dois compartimentos. A condensação nocturna era suficiente para fornecer abundante provisão de água. De um dos compartimentos deste tanque, com 20 pés de largura e 16 palmos de profundidade, retiravam o precioso líquido para uso dos habitantes e do outro para os animais, lavagens e outros empregos. Verdade ou lenda o facto é que ainda hoje se podem ver em El Monacal os reservatórios para armazenagem de água.
C.N. Tavares
Naturalia, vol V, nº 6, 1955
Dia 12 Abril 2005
Não é planta banal a que foi denominada «árvore da chuva». A sua importância deve-se à propriedade de em certas condições de ambiente determinar abundante condensação de humidade atmosférica à superfície das folhas, o que provocará uma queda sob a forma de gotas, donde a comparação com o fenómeno da chuva.
C.N. Tavares
Naturalia, vol V, nº 6, 1955
Dia 13 Abril 2005
Uma das primeiras referências a esta notabilidade do mundo vegetal remonta a Plínio que nos transmitiu as informações recolhidas por Juba II, rei da Mauritânia, cerca de 25 anos a.C. nos seguintes termos: «A primeira ilha denominada Ombrion não possui vestígios de habitações; nas suas montanhas há um charco com árvores que lembram a férula e das quais escorre água, das árvores negras a água obtida é amarga, mas das mais claras é agradável ao paladar». A ilha de Ombrion foi identificada como Hierro pelos geógrafos. Teria sido o facto relatado por Plínio que permitiu a instalação do homem naquela ilha?
C.N. Tavares
Naturalia, vol V, nº 6, 1955
Dia 14 Abril 2005
Apesar da celebridade da árvore da chuva no princípio do século XVII e das referências feitas por alguns naturalistas, Lineu não deve ter obtido a seu respeito informações rigorosas que permitissem a sua inclusão no Species Plantarum (1753). No frontispício de algumas obras como a Histoire admirable, de Duret (1605), e a Historia plantarum generalis, de Bauhin e Cherler (1619) encontram-se reproduções da estranha árvore apenas no que se refere a caracteres vegetativos. Estes dois botânicos, na sua Historia plantarum universalis, dos meados do séculoXVII, deram-lhe o nome de «árvore que destila água» (arbor aquam stillans). Nas Canárias a árvore sagrada é conhecida por «Garoe».
C.N. Tavares
Naturalia, vol V, nº 6, 1955
Dia 15 Abril 2005
Do ponto de vista botânico a que espécie ou espécies corresponderá a árvore da chuva? As primitivas descrições são muito pouco rigorosas para uma identificação, mas em especial a Crónica dos Reis Católicos fornece uma narrativa útil para a caracterização botânica. Foi o fruto que deu as indicações mais úteis para esse objectivo. Na verdade ele tem sido descrito como semelhante ao dos carvalhos, azinheiras ou sobreiros. Embora se trate de uma semelhança apenas superficial foi o bastante para se procurar na vegetação arbórea das Canárias a planta em questão. Um aúnica exibe fruto que se possa comparar com o dos carvalhos: É o «til», a Ocotea foetens (Ait.) Benth. & Hook.
O «til» atinge 20-30 metros de altura e o seu tronco cilíndrico e elegante ramifica-se abundantemente em copa de amplas dimensões. O lenho extremamente duro, de cerne quase negro, exala antes de seco, cheiro nauseante, particularidade que serviu para lhe atribuir o qualificativo específico de «foetens» (que fede). As folhas persistem durante alguns anos e apresentam um contorno oblongo-lanceolado ou subelíptico. Em novas são tenras e cobertas de pêlos sedosos, mas com o crescimento tornam-se glabras e coriáceas. Não raras vezes, apresentam a superfície com saliências bolhosas na página superior, junto às axilas das nervuras. Vistas pela página inferior estas saliências são escavadas e a sua superfície está coberta de abundantes pêlos amarelados. Nem todas as folhas mostram esta particularidade, mais comum especialmente para a base do limbo.
C.N. Tavares
Naturalia, vol V, nº 6, 1955
Dia 16 Abril 2005
Quando florida a Ocotea foetens exala suave aroma que faz lembrar o perfume das tílias em flor. Isto está em relação com o nome vulgar - «til»
C.N. Tavares
Naturalia, vol V, nº 6, 1955
“Publicada pela Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais entre 1936 e 1986, a Naturalia constitui uma verdadeira montra do percurso desta área do saber ao longo de boa parte do século XX. As fotografias da época, as ilustrações, os anúncios, trazem ressonâncias de épocas passadas em que a divulgação das Ciências Naturais tinha uma realidade própria, enriquecida pelo contributo de alguns grandes vultos da comunidade científica nacional”
in Calendário Naturalia 2005 Assírio & Alvim:
Dia 11 Abril 2005
Na Ilha de Hierro, no arquipélago das Canárias, as nascentes eram raras e de minguado caudal, insuficientes para a s necessidades dos primitivos habitantes e seus rebanhos. Nem por isso a vida animal e vegetal deixava de se manifestar largamente nessa curiosa ilha. Donde provinha então a água necessária aos seres vivos que povoavam Hierro? O segredo estava na «árvore sagrada» de El Monacal.
Esta árvore, cujo tronco tinha grossura tal que eram necessários dois homens para a abraçar, possuía vasta e frondosa copa. Debaixo dela os primeiros colonizadores construíram amplo tanque de pedra com dois compartimentos. A condensação nocturna era suficiente para fornecer abundante provisão de água. De um dos compartimentos deste tanque, com 20 pés de largura e 16 palmos de profundidade, retiravam o precioso líquido para uso dos habitantes e do outro para os animais, lavagens e outros empregos. Verdade ou lenda o facto é que ainda hoje se podem ver em El Monacal os reservatórios para armazenagem de água.
C.N. Tavares
Naturalia, vol V, nº 6, 1955
Dia 12 Abril 2005
Não é planta banal a que foi denominada «árvore da chuva». A sua importância deve-se à propriedade de em certas condições de ambiente determinar abundante condensação de humidade atmosférica à superfície das folhas, o que provocará uma queda sob a forma de gotas, donde a comparação com o fenómeno da chuva.
C.N. Tavares
Naturalia, vol V, nº 6, 1955
Dia 13 Abril 2005
Uma das primeiras referências a esta notabilidade do mundo vegetal remonta a Plínio que nos transmitiu as informações recolhidas por Juba II, rei da Mauritânia, cerca de 25 anos a.C. nos seguintes termos: «A primeira ilha denominada Ombrion não possui vestígios de habitações; nas suas montanhas há um charco com árvores que lembram a férula e das quais escorre água, das árvores negras a água obtida é amarga, mas das mais claras é agradável ao paladar». A ilha de Ombrion foi identificada como Hierro pelos geógrafos. Teria sido o facto relatado por Plínio que permitiu a instalação do homem naquela ilha?
C.N. Tavares
Naturalia, vol V, nº 6, 1955
Dia 14 Abril 2005
Apesar da celebridade da árvore da chuva no princípio do século XVII e das referências feitas por alguns naturalistas, Lineu não deve ter obtido a seu respeito informações rigorosas que permitissem a sua inclusão no Species Plantarum (1753). No frontispício de algumas obras como a Histoire admirable, de Duret (1605), e a Historia plantarum generalis, de Bauhin e Cherler (1619) encontram-se reproduções da estranha árvore apenas no que se refere a caracteres vegetativos. Estes dois botânicos, na sua Historia plantarum universalis, dos meados do séculoXVII, deram-lhe o nome de «árvore que destila água» (arbor aquam stillans). Nas Canárias a árvore sagrada é conhecida por «Garoe».
C.N. Tavares
Naturalia, vol V, nº 6, 1955
Dia 15 Abril 2005
Do ponto de vista botânico a que espécie ou espécies corresponderá a árvore da chuva? As primitivas descrições são muito pouco rigorosas para uma identificação, mas em especial a Crónica dos Reis Católicos fornece uma narrativa útil para a caracterização botânica. Foi o fruto que deu as indicações mais úteis para esse objectivo. Na verdade ele tem sido descrito como semelhante ao dos carvalhos, azinheiras ou sobreiros. Embora se trate de uma semelhança apenas superficial foi o bastante para se procurar na vegetação arbórea das Canárias a planta em questão. Um aúnica exibe fruto que se possa comparar com o dos carvalhos: É o «til», a Ocotea foetens (Ait.) Benth. & Hook.
O «til» atinge 20-30 metros de altura e o seu tronco cilíndrico e elegante ramifica-se abundantemente em copa de amplas dimensões. O lenho extremamente duro, de cerne quase negro, exala antes de seco, cheiro nauseante, particularidade que serviu para lhe atribuir o qualificativo específico de «foetens» (que fede). As folhas persistem durante alguns anos e apresentam um contorno oblongo-lanceolado ou subelíptico. Em novas são tenras e cobertas de pêlos sedosos, mas com o crescimento tornam-se glabras e coriáceas. Não raras vezes, apresentam a superfície com saliências bolhosas na página superior, junto às axilas das nervuras. Vistas pela página inferior estas saliências são escavadas e a sua superfície está coberta de abundantes pêlos amarelados. Nem todas as folhas mostram esta particularidade, mais comum especialmente para a base do limbo.
C.N. Tavares
Naturalia, vol V, nº 6, 1955
Dia 16 Abril 2005
Quando florida a Ocotea foetens exala suave aroma que faz lembrar o perfume das tílias em flor. Isto está em relação com o nome vulgar - «til»
C.N. Tavares
Naturalia, vol V, nº 6, 1955
Comments:
Enviar um comentário