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segunda-feira, abril 26, 2004

“- Vossa excelência … - disse Kovaliov, num esforço para ganhar coragem -, vossa excelência …
- O que deseja o senhor? – perguntou o nariz virando-se para ele.
- Acho estranho que vossa excelência … acho que … o senhor tem que saber qual é o seu lugar. Encontro-o agora, e onde? Numa igreja. Tem que concordar que…
- Desculpe, não compreendo do que está a falar… Faça favor de explicar-se.
“Como vou explicar-lhe?” – pensou Kovaliov e, recobrando o ânimo, começou:
- Sem dúvida, eu … para todos os efeitos, sou major. Para mim, andar sem nariz, tem de concordar, é andar descomposto. Uma vendedeira qualquer pode ir para a ponte Voskressénski vender laranjas descascadas sem nariz; mas eu, tendo por desígnio obter …além disso, sou recebido em muitas casas onde há damas: Tchekhtariova, esposa de conselheiro de estado, e outras … Julgue vossa excelência por si … não sei, cavalheiro. (Aqui o major Kovaliov encolheu os ombros). Desculpe, mas … se virmos as coisas em conformidade com as regras do dever e da honra … vossa excelência mesmo compreenderá…
- Não compreendo absolutamente nada – respondia o nariz. – Faça favor de esclarecer melhor.
- Saiba vossa excelência – disse Kovaliov com dignidade -, que não sei como interpretar as suas palavras … Parece-me que o assunto é absolutamente claro … Ou o senhor deseja … é que o senhor é o meu próprio nariz!
O nariz olhou para o major e carregou um pouco os sobrolhos.
- Está vossa excelência muito enganado. Eu sou apenas de mim próprio. Além disso, não poderia haver entre nós quaisquer relações de tanta intimidade. A julgar pelos botões do seu uniforme, o senhor presta serviço no departamento de um ministério que não o meu.
Dizendo isto, o nariz virou-lhe as costas e continuou a rezar.”

(Nikolai Gógol, 1836)
















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